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Friday, September 26, 2008

Onde a gente se meteu

Quem é que gosta de corretores imobiliários? Poucos. Coitados deles, afinal existem exceções como em qualquer outra generalização. Mas os corretores têm uma fama ruim, bem ruim, e vamos combinar que muitos deles merecem. Sabemos que eles vivem do que vendem mas, outros tipos de vendedores também e não são tão chatos. Bom, alguns são. Mas enfim, os corretores fazem algumas pessoas quererem atravessar a rua para não encontrá-los, e eu e Ricardo fomos contra todo o preconceito ontem e nos enfiamos numa feira de imóveis cheia, lotada, de corretores. E ainda pagamos por isso. Pois é, o desepero faz cada coisa.
Nessa procura maluca de um lar, descobrimos que ia ter no Anhembi essa feira, a SISP - Salão Imobilário de SP. É cansativo, mas pelo menos está todo mundo lá, reunido num só lugar, e dá pra facilitar um pouco o trabalho desgastante que é ir de construtora em construtora, corretora em corretora, ciscando grãos em cada canto de SP.

Uma coisa me assustou. Já tive que organizar stand em feiras antes e sei que é um gasto alto para o expositor, não só com o espaço mas também com a produção do stand em si. Pois nessa feira os stands eram de altíssimo nível, dava pra ver que as empresas tinham feito um grande investimento. Bacana. Mas na hora de ser atendida, ah, que lástima. Corretores absolutamente despreparados, perdidos, sem material de apoio, sem saber o que tinha de imóvel disponível para venda. A gente lá, querendo comprar, e eles lá, sem saber o que oferecer. Tinha corretor que não sabia metragem dos apartamentos. Outro não sabia onde era o bairro. Um terceiro, coitado, não sabia mexer no computador - mas o stand era todo online, cada corretor tinha um espaço conectado à central de onde deveriam fazer as pesquisas, ao invés de ficar folheando aquela papelada. Fiquei pensando, qual é o problema que existe dentro das empresas que as faz ter esse enorme gap de comunicação interna: stands lindos e pessoal tão despreparado. Fiquei pensando também em quantas vendas eles não perderam por isso. E quanto dinheiro não estão desperdiçando com o não aproveitamento dos recursos investidos na feira.

Eu saí de lá com a impressão de ter chegado perto do que queria achar, mas por pouco, não achei nada. Com um feeling de que meu apartamento perfeito podia estar lá, escondido em algum folder na pasta de um corretor que não fez a lição de casa antes de ir pra feira.

Mas duas coisas fizeram valer o passeio, e vou contar sobre elas. A primeira foi um stand do Governo do Estado de São Paulo - Secretaria da Habitação - apresentando o novo projeto de habitação popular do CDHU. Uma casinha bonitinha - confesso que eu ficaria bem feliz com uma delas se não fosse o lugar onde são construídas - com 2 quartos, toda adaptada (consequentemente ampla) para deficientes fisicos, com detalhes como barras e interruptores em alturas mais adequadas e chã0 especial, entre outros. Legal saber que o governo está tirando projetos como esse do papel.

A outra foi o stand da Escosfera Empreendimentos Sustentáveis. O espaço em si não era tão bacana e coerente quanto o do Banco Real (que estava lá oferecendo crédito), todo de material reciclado. Mas foi um bom começo. Mostrava todos os itens de sustentabilidade que seus empreendiments têm como diferencial, coisas como energia solar para áreas comuns, sistemas de economia de energia, reutilização de água da chuva. Nenhuma super novidade. Mas pelo menos alguém começou a fazer. Dêem uma olhada no site deles, vale a pena. É bom saber que esse tipo de coisa está começando a acontecer por aqui, mesmo que seja de forma tímida. Ah, e o stand estava lotado :-)
http://www.ecolifeindependencia.com.br/home/

Tuesday, September 23, 2008

Eu voltei

E eu... voltei. Aqui estou, há dez dias que parecem 24 horas às vezes, três meses outras vezes, nesta cidade maluca chamada São Paulo.

A primeira impressão foi aquela que eu temia. Um horizonte cinzento, mar de prédios dos quais não se consegue ver o topo através do ar seco, escuro e denso de poluição.

A segunda impressão foi melhor; a primeira vez que fui num mercado (um chique no Morumbi, comprar flores pra levar de presente) e a moça da minha frente estava recusando as mil sacolinhas plásticas que o empacotador insistia em usar para colocar poucos itens. Fiquei feliz. Toda orgulhosa, quando chegou minha vez, sorri e disse "pra mim não precisa de sacolinha também não, moço". Muita ingenuidade minha achar que estou conseguindo fazer algo com este exemplo?

A terceira impressão foi ótima. Choveu, limpou o ar. Eu, que temia o calor e rezava por um inverno fora de época e prolongado que se estendesse até dezembro, fui ouvida - pelo menos por enquanto. Melhor não falar muito. Há pelo menos uma semana faz um friozinho quase europeu em São Paulo.

A minha falta de rotina também ajuda a não ver o famoso trânsito, então desse mal eu ainda não sofri.

A cidade está mais bonita. Pra quem está aqui pode não ter feito muita diferença, afinal a velocidade é baixa e a quantidade de mudanças necessárias é enorme. Mas mudou. Eu, que fiquei sem olhar São Paulo como a "cidade onde eu moro" por 1 ano e meio, e agora voltei a enxergar, achei-a muito melhor. Mais bem-cuidada, mais vaidosa. As praças estão arrumadas os ipês estão em flor (ok, isso é culpa unicamente da primavera que sim, existe por aqui também). Não existem mais os horrendos outdoors. Aliás, ei, vocês que ainda criticam esse projeto. Vocês realmente se lembram como eram os outdoors? Aquelas estruturas precárias de madeira, uma atrás da outra, subindo e descendo as laterais das avenidas, tentando esconder o lixo que se acumulava por trás? Pois é, lembrem-se disso. Não é possível não gostar do que foi feito.

Novos parques foram abertos.

Impressão minha, talvez, mas as pessoas estão menos neuróticas. Outro dia tinha um rapaz todo contente, desligado, vidrão aberto no meio do trânsito, sorrindo.
Ou fui eu que fantasiei um Brasil muito pior do que realmente era?

O fato é que, estou aqui. Voltei e tenho tido motivos pra me orgulhar. E isso é bom.
A procura de casa está caótica, mas vamos deixar só boas coisas para este post e deixar o que não é tão bom assim pra outra ocasião.
Aproveito pra dar uma dica que ilustra bem o que ando vendo de bom por aqui: o blog http://www.oguiaverde.com/, da jornalista Priscilla Santos. Eu aqui pensando em fazer um blog sobre o que fosse encontrando de bacana, verde & sustentável em São Paulo, demorei muito, a Priscilla já fez. Ela trabalha na revista Vida Simples, que eu adoro, e fez uma matéria que incluiu o nosso "Família vende tudo" online, o blog que fiz pra vender nossas coisinhas quando resolvemos ir embora de Londres. A matéria pode ser lida aqui: http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/071/mente_aberta/conteudo_305412.shtml.

Fora os amigos e a família. A gente repete tanto isso quando está fora, que "sente falta dos amigos e da família" que vira clichê e fica batido. Mas é tão verdade. O que seria da vida sem eles?

Saturday, August 30, 2008

Um absurdo chamado Brasil

Sexta-feira, 10 horas da manhã em Londres, 6 horas da manhã no Brasil. Meu primeiro dia de "férias" da Embaixada. Tomei café, esperei o marido sair e sentei em frente ao computador para, pela primeira vez com calma, vasculhar todos os sites de notícias possíveis para fazer notas pro Bluebus.
Comecei pelos ingleses. BBC, Telegraph, Financial Times, The Economist. Em todos eles, uma mesma novidade que me chamou a atenção como sempre chama quando se trata do Brasil: uma descoberta de cientistas brasileiros e americanos na Amazônia. Encrustados no meio do que se achava ser floresta virgem, eles encontraram vestígios de uma civilização moderna, urbana, complexa e desenvolvida, comparada nas reportagens às antigas cidades Romanas e Gregas.
Então fui procurar a notícia nos veículos brasileiros.
Nada.
Apesar de incrédula, resolvi escrever a nota pro Bluebus focando na notícia - afinal isso era o mais importante - e me segurar pra não colocar nenhum comentário maldoso sobre a mídia brasileira. Deixei pra colocar a revolta aqui.
Como é que pode? Uma notícia dessa relevância, que prova que tínhamos uma civilização, sim, e tão desenvolvida quanto as que estudamos na escola, e só falam disso fora do Brasil?
Até agora não dá pra acreditar.
Qual é o problema dos veículos de comunicação brasileiros?
Enquanto isso, na home page de um dos principais sites nacionais, uma chamada enorme, no local mais nobre da página, sobre as mulheres-frutas. A maçã, a melão, e por aí continuava. E todas com cara de travesti.
Qual é o problema do Brasil?

Tuesday, August 12, 2008

Assunto bom e gente inocente, a gente não pode deixar morrer!

E a lei seca? Ninguém mais falou nada. Já foi cancelada? Tá todo mundo feliz, bebendo como queria, tomando seus porres merecidos, batendo o carro quando quiser?
Ou uma turminha rara de políticos firmes e corajosos está conseguindo fazer o povo se acalmar e escolher entre beber ou dirigir? (ainda não entendi o que é tão complexo nessa decisão.)

Na verdade voltei ao assunto porque o Antonio Prata colocou no site dele, pela segunda vez, um texto com suas observações sobre o assunto, e o texto é tão bom que eu aproveitei a deixa pra reproduzir aqui, como queria ter feito da primeira vez, as minhas partes preferidas.

Quem sabe assim quem ainda está em dúvida, aceita finalmente não beber ou pegar um táxi pra casa pelo nobre motivo de salvar algumas vidas.

"Estou realmente admirado que a minha turma do bar esteja se unindo em torno de duas causas tão nobres: bombons e cáries. Claro. Afinal, exigir o direito de dirigir bêbado ninguém tem coragem. Ou tem?"

"Então preferíamos, em vez de nos apegarmos ao texto da lei, nos focar em seu princípio – não sei se por nossa grande capacidade de abstração ou se simplesmente por preguiça –: “pode beber, mas não muito”. Ou seja, pegávamos o limite de dois chopes ou uma taça, adicionávamos o chorinho que acreditávamos caber a cada um de nós e lá se iam 30 mil vidas, a cada ano. Agora, não tem mais chorinho nem vela. Bebeu um chope, adeus carro. Que país é esse, minha gente?!"

"Uma associação de bares e restaurantes está ameaçando entrar com ação na justiça, para garantir o direito inalienável de seus clientes atropelarem pedestres e chocarem-se contra Kombis escolares na contra-mão. Maravilha. A Kopenhagen e a Johsons, quem sabe, também vão fazer a mesma coisa.Enquanto isso não acontece, no entanto, sugiro outra alteração na 11.705, para que ela não seja assim tão contrária à nossa natureza, à nossa cultura: cadeia diferenciada, dependendo da bebida que tiver sido ingerida pelo motorista."

"A que quantidade de álcool permitida, no entanto é um detalhe ínfimo, diante da boa notícia de que, finalmente, beber e dirigir vai se tornar um crime de verdade e que milhares de vidas serão poupadas. (Milhares, aqui, não é força de expressão. São mais de trinta mil mortos por ano, no trânsito. Boa parte dos acidentes, causados por motoristas bêbados).Acho estranho tanto fervor na defesa de um chopinho e uma tacinha. E na vidinha, não vai nada?"

Friday, August 08, 2008

São Paulo X Londres, por outro ponto de vista

A comparação entre essas duas cidades é o tema mais óbvio deste blog. Tão óbvio que não dá pra eu ignorar uma matéria, publicada numa revista brasileira, escrita por um inglês, com o título "Separadas no nascimento". Hein? Eu tinha que tentar entender. Não concordo, mas, digamos, a teoria tem seu valor. E me deixou com uma pontinha de orgulho por mostrar o lado bonito e otimista da história, que é bem o que eu estava precisando a um mês de chegar de volta a essa cidade maluca que é São Paulo :-)

"Separadas no nascimento

Um jornalista britânico diz por que Sampa e Londres são tão iguais e tão diferentes

Tive uma linda visão de São Paulo, noite dessas, do alto de uma favelinha do Jaguaré. Eram 10 da noite, mas a Marginal Pinheiros ainda fremia com as luzes dos carros e os arranha-céus brilhavam como num filme de ficção científica. Jorge, o menino que me mostrou o lugar, disse-me que os pores-do-sol eram ainda mais legais. Todos falam que São Paulo é feia. Mas à noite, atravessando a nova Ponte Estaiada ou a Avenida Paulista, o que se vê é um lugar de beleza futurística.
Na Europa, São Paulo é vista como uma cidade que conta, um lugar supercool. Os paulistanos parecem não concordar. Estão ocupados demais a seus volantes em mais um congestionamento a caminho da próxima reunião (ou vice-versa), ou à terapia. São Paulo é sempre mais cool quando procura não sê-lo. O hotel Maksoud Plaza possui mais personalidade - e alma - que o Unique. O restaurante Tako, na Liberdade, serve melhor comida que o Spot com todas as suas celebridades. A atmosfera relaxada, totalmente isenta de afetação do Bar do Giba, em Moema, ou do Genésio, na Vila Madalena, é onde São Paulo melhor se mostra.
E Londres? É a cidade mais cosmopolita da Terra. São Paulo é um pouco japonesa, mas Londres não se identifica apenas com sua gigantesca comunidade indiana como também com a polonesa. Com a grega. Com a brasileira. O Carnaval de Notting Hill, todo agosto, é o maior festival das Índias Ocidentais do mundo. Na feira da Ridley Road, em Dalston, podem-se comprar produtos da Turquia, de Bangladesh e de vários países da África.
Londres tem um metrô que vai a qualquer lugar e motoristas de táxi que sabem onde ficam os destinos dos passageiros. E - perdão - londrinos têm infinitamente mais estilo que os paulistanos. Seja no Mercado de Spitalfields, nas pequenas e loucas butiques de Brick Lane, seja nas barganhas das lojas Primark ou Top Shop, da Oxford Street, as roupas de Londres são mais bem desenhadas, cortadas, costuradas - e mais baratas. Uma marca como a Osklen, digamos, pode apenas competir no atendimento das lojas - que é sempre melhor no Brasil.
São Paulo tem melhores restaurantes. Londres, mais variedade e ótimos tailandeses, japoneses e indianos. E ninguém come mais fish & chips, embora o Upper St. Fish Shop, em Islington, os faça bem. Londres é também uma cidade onde pedestres são mais que aquilo que às vezes passa na frente do seu carro. São Paulo tem seu Ibirapuera (e nele os museus MAM e a Oca), mas em Londres pode-se andar na margem do Tamisa por horas, passar pela Tate Modern, pelo Museu do Design e pela Ponte do Milênio sem sair da mesma via. Londres não é tão segura como se diz - houve cerca de 50 esfaqueamentos fatais neste ano, por exemplo. Mas é bem mais tranqüila que São Paulo. Londrinos, temos excelentes maneiras: se você ligar para um, ele ligará de volta; se você marcar um encontro ele não chegará uma hora mais tarde.
Mas os paulistanos são positivos. Trabalham duro e sabem como aproveitar a vida. Comem em horas civilizadas e não se preocupam com o horário em que voltarão para o trabalho ou para casa.
Londres, apesar de tão cosmopolita, às vezes dá a sensação de perder tempo querendo ter mais de tudo que já tem. Como se ignorássemos a frase do diário de Samuel Pepys: "Quando alguém está cansado de Londres, está cansado de viver".
São Paulo é uma cidade muito dinâmica num país que muda bem mais rápido do que percebemos. Como se vê na incrivelmente vibrante Rua Santa Ifigênia e suas lojas de faça-você-mesmo-o-seu-PC. Até as favelinhas têm internet agora."



*Dom Phillips, inglês, 43 anos, trocou Londres por São Paulo, mas ainda não sabe chegar a seus compromissos uma hora após o horário marcado. Escreve para a revista Heat e para o jornal The Times.
Por: Dom Phillips Foto: J. L. Stephan (esq.)/divulgação (dir.)Matéria publicada na Revista Viagem e Turismo

Wednesday, August 06, 2008

O que levo de Londres comigo

Oh vida, oh céus. Como não estou achando suficiente estar nervosa com a gravidez, a mudança (de casa, de país, de vida, de tudo), a ansiedade por uma segurança financeira, a mudança (esqueci de citar as malas), a carência, as saudades, etc etc etc, resolvi também escolher este momento pra refletir sobre o que quero fazer da minha vida. Afinal de contas, já que é pra surtar, que seja de verdade. Certo?

Pois então.

Foi só quando cheguei em Londres, um ano e meio atrás, que levei o choque do Marketing verde e comecei a entender as suas dimensões. Aliás, eu nem gosto de chamar de Marketing verde porque pra mim, vai muito além disso. A parte ambiental desse movimento todo é só uma pequena partezinha de uma coisa muito maior, que não tem nome, mas que eu chamaria de "Marketing do bem". Nem sempre as campanhas que me transmitem essa mensagem estão focadas na preservação do meio ambiente - muitas vezes são apelos sociais diversos ou apenas novas formas, mais gentis e respeitosas, de se falar com o consumidor. Faz tempo que eu tenho percebido esse novo "tom", muito sutil, nas campanhas por aqui: um tom de respeito, um tom de quem fala com alguém de igual pra igual. Exemplo disso era uma campanha da Virgin Media que chamou a minha atenção e a de meus colegas de curso, que explicava timtim por timtim como funcionava a conexão de fibra óptica e porque ela era melhor. O anúncio só tinha texto, era relativamente técnico, e ficou marcado na minha memória como um dos melhores que já vi.

É claro que nenhuma dessas campanhas está livre de interesses, afinal ninguém gasta dinheiro apenas para ser gentil (pelo menos não as instituições lucrativas). Mas sim, continuo vendo isso como uma onda "do bem" pois, interesses à parte, todo mundo sai ganhando. Não há problema em haver interesses se ambos os lados estão sendo beneficiados, e se a campanha é honesta. Essa onda me despertou um otimismo em relação à publicidade e marketing que eu nunca havia sentido, uma nova forma de enxergar esse mercado do qual por acaso eu participo, mas desta vez uma forma empolgante, honesta, verdadeira, uma razão de ser maior para se dedicar de corpo e alma a um trabalho e não apenas pra ganhar dinheiro e ir dormir com dor na consciência por estar dando mais dinheiro pra quem já tem e não fazendo nada de bom pra ninguém. É, eu sofri bastante desse mal de consciência no meu passado profissional.

Além disso, acredito que mesmo havendo interesses financeiros por trás de campanhas "boazinhas", muitas vezes os lucros não estão diretamente envolvidos. Mas isso não anula, de forma alguma, o retorno positivo e futuro em termos de imagem e aprovação do consumidor. Afinal, isso é inteligência. É ir muito além do próprio umbigo, é aprender de uma vez por todas que o interesse coletivo faz o ambiente como um todo muito melhor e volta para o indíviduo, mas de forma muito mais gratificante - e permanente. Como explicar a campanha do Transport for London (a empresa responsável pela administração do transporte público em Londres), que espalhou cartazes dentro dos ônibus, nos pontos e nos metrôs incentivando as pessoas a usar mais a bicicleta, a caminhar, a descer 1 ou 2 pontos (ou estações) antes e terminar o trajeto a pé? Porque eles fariam isso? Suícidio? Não. Empatia com o público. A gente vê os cartazes e pensa "que caras legais". Mas tem outra coisa: as pessoas já perceberam que não existe crescimento de receita eterna, poço sem fundo. Existe um ponto de equilíbrio, um tamanho certo para cada empresa, na qual elas chegam e a partir de então, mudam o foco para manter-se do mesmo tamanho porém cada vez mais excelentes em seus serviços ou produtos, mais sustentável, mais em sintonia com o mercado e tendências e comportamento do consumidor. Mas por que parar de crescer? Porque o mundo não suporta mais todo mundo querendo ser mais rico, melhor, maior. As coisas só vão chegar perto do ideal quando ficar cada um no seu lugar e respeitando os limites, crescemndo em qualidade e não mais em tamanho.

Depois de me recuperar dessa surpresa toda, de ter encontrado uma filosofia "do bem" tão desenvolvida por aqui, de ter encontrado, enfim, uma forma de trabalhar na área que escolhi respeitando meus princípios, achei que finalmente poderia ser feliz no meu trabalho. Mas e aí? Cadê as empresas que pensam assim? Como é que eu encontro os meus iguais? Continuo esbarrando o tempo todo com gente que acha que produto reciclável, orgânico ou biodegradável é "frescura". Continuo esbarrando com gente que se refere ao próprio público consumidor com desprezo e ar de superioridade. Continuo vendo, aos montes, gente que só quer saber de receber seu salário e ir pra casa no final do dia, como se o que faz nas 8 horas de trabalho fosse algo completamente sem importância. Procurei cursos especializados em MKT verde, procurei cursos especializados em MKT social, procurei cursos especializados em MKT do bem. Mas não tem.

Eu tive um diretor uma vez que dizia que deveríamos colocar, nas lojas do nosso cliente (que oferecia "serviços financeiros" - empréstimos - pra classe C e D), um consultor ajudando as pessoas e verificando se elas precisavam mesmo de empréstimos ou se não era só uma questão de reorganizar o orçamento. Ninguém deu importância pra essa idéia que, na minha opinião, se tivesse sido colocada em prática quando foi lançada teria transformado a empresa em revolucionária e líder absoluta, sem contar o grau de fidelidade que agora teriam seus consumidores.

Eu quero vender carro dizendo pras pessoas caminharem mais. Eu quero vender TV falando que nada susbstitui o pôr do sol ao vivo. Eu quero ser gentil com meus consumidores, que eles tenham razões verdadeiras para confiar em mim. Mas, como em todo o começo de revolução, estou perdida à procura dos meus companheiros, sem saber por onde começar.

Friday, July 25, 2008

Alguém explica?

Sexta-feira de manhã e eu, gripada, levantei cedo para esperar minha amiga que está chegando em Londres vindo da Alemanha.

Nada de bom na TV, o livro não empolga, resolvo ler as notícias na internet. São sempre os mesmos que eu olho pra ter uma idéia geral do que está acontecendo pelo Brasil: Uol, Terra, Estadão.

Já tinha lido todas as chamadas mais importantes mas nada da amiga chegar, e então eu vejo uma chamada no Terra TV sobre Paris. Interessante. Mas assim que eu cliquei na chamada, fui direcionada para uma tela vermelha com a seguinte mensagem, em três línguas: "Conteúdo restrito - você está fora do Brasil e por isso não tem acesso a esse conteúdo".

???

Poxa, não é porque eu estou em outro país que sou leitora menos imporante do site. Estou me sentindo como se fosse uma traidora da nação, uma exilada, sem direito às notícias do Brasil (o fato de que eu estava tentando ver um vídeo sobre Paris é apenas um detalhe).

É como se algum leitor de alguma revista tentasse fazer uma assinatura para recebê-la fora do território nacional e escutasse como resposta "não, você está fora do Brasil e não têm mais direito a ler esta revista".

Será que existe algum impedimento técnico ou é só falta de consideração com os leitores distantes mesmo?

Tuesday, July 22, 2008

Haja coragem

É aqui que estou


(foto tirada ontem do estacionamento do Sainsburys em Londres. Esse supermercado está no centro da cidade - e eram umas 10 da noite quando a foto foi tirada.)


E é pra lá que eu vou


(foto tirada ontem em São Paulo)

Tuesday, July 15, 2008

Balanço

O que quero levar pro Brasil de qualquer jeito:

- Minha casa.
- Meu bairro.
- Os ônibus de 2 andares.
- O corredor de chocolates do Sainsburys.
- Todos os supermercadinhos fofos de orgânicos.
- Todas as lojas de cosméticos, e também as seções de cosméticos das lojinhas fofas.
- A Selfridge's inteira.
- As calçadas pra eu caminhar, os ônibus e metrôs pra eu não precisar de carro, os parques pra eu continuar vendo o céu.
- A Gap. Mas se não der pra levá-la inteira, eu fico feliz só com a seção de grávidas.
- Os musicais.
- O rio, ah, o rio. Com suas águas limpas, pontes centenárias... ah, o rio.
- Os preços das passagens aéreas pro resto da europa.
- O trem pra Paris.


O que eu mal posso esperar pra ter de volta:

- Minha família, ai que saudade.
- Meus amigos, ai que saudade.
- A comidinha de casa, o bolinho de arroz da Ví, as frutas, hummmm as frutas.
- O que me faz lembrar das mangas de Guaecá. Ai meu Deus.
- Guaecá.
- Praia.
- Sol (o de verdade, que esquenta e bronzeia).
- Andar descalça na grama.
- Andar de havaianas na cidade (sem sentir frio nos dedinhos do pé).
- Cinema. Por algum motivo obscuro a gente não vai quase nunca aqui e ia todo fim de semana no Brasil.
- Férias. É, pela primeira vez na vida terei looongas férias remuneradas. E viva a licença-maternidade européia!
- Online banking brasileiro. Apesar do nome gringo, é infinitamente mais evolúido na terrinha.
- Cabelereiro. Manicure. Pedicure. Massagem.
- Churrasco + sambão. (Dá pra acreditar, vindo de uma semi-vegetariana fã de rock?)
- O céu azul, apesar de os prédios de São Paulo não deixarem a gente ver direito.
- Comer fora.
- Gibi da turma da Mônica.

Update - COMO FOI que eu fui me esquecer disso???:

- Restaurante japonês bom e acessível.
- Palmito!!! (thanks, Marys!)
- O BÓRIS!!!!

Começou a despedida

SIM, eu sou dramática. E como boa dramática, começou a choradeira. Faltam menos de dois meses para irmos pro Brasil. E desta vez, pra ficar, sem Londres esperando a gente quando as férias acabarem.

Eu sei, eu sei. Quantas vezes repeti que nada superava o Brasil, com seu sol, seu clima e suas pessoas. E continuo achando isso. Mas é que é difícil se despedir de uma cidade linda, na qual passamos 1 ano e meio com um balanço bastante positivo. Bom, o fato de ser verão por aqui também ajuda a doer um pouquinho mais (se fosse inverno eu já teria adiantado a passagem).

Saber que estou indo embora está me dando uma visão diferente de tudo. Aliás, engraçado pensar nas tantas formas com que já enxerguei esta cidade.

Ontem foi uma noite especial. Nosso primeiro aniversário de casamento e fizemos um programa delicioso e bem londrino. Antes de me encontrar no final da tarde, o Ricardo passou no Whole Foods Market - um supermercado só de orgânicos - e comprou dois sanduichões e duas sobremesas. Colocou na sacola térmica, seguiu viagem pelo ônibus que circunda o Hyde Park e desceu aqui na Park Lane pra me encontrar na Embaixada.
Fomos juntos pro parque, alugamos duas espreguiçadeiras, abrimos nossos sanduíches e jantamos com os pés descalços na grama, o maior solzão das 7 da noite e circundados por famílias, grupos de amigos e solitários em geral que tiveram a mesma idéia.

Terminado o jantar, lá vamos nós pro metrô - algumas estações e já estávamos em Piccadilly, com suas hordas de turistas, seus teatros, sua vida que não pára. A peça a que fomos assistir vocês já sabem, está no post anterior.
Saindo do teatro, ainda fomos tomar um sorvete na Leicester Square. Pra quem não conhece, essa é a praça do cinema de Londres, com as mãos dos famosos estampadas nas calçadas e onde acontecem as premiéres dos principais filmes. Por que é que eu só fui descobrir que essa praça fica lotada de gente até mesmo às segundas-feiras tarde da noite? Teria me salvado de muitos fins de tarde tediosos.
Acho que de tão turístico, o programa me fez ter uma sensação de aproveitar a cidade como se eu estivesse de férias, sem compromisso, sem problemas. Curtindo Londres de uma forma diferente.
Tá aí. Acho que fingir umas férias no meio da rotina, mesmo que na cidade onde vivemos, dá um gostinho mais doce na vida.

Entramos no ônibus pra voltar pra casa, o ônibus preferido, o 23. Ele saiu de Piccadilly, passou pela Regent Street com suas construções imponentes. Lembro que a primeira vez que fiz esse caminho fiquei impressionada por essa rua iluminada à noite, suas lojas chiques, suas fachadas centenárias. Depois Oxford Street, o cantinho do Marble Arch que virou meu cantinho tão conhecido, por onde passo um monte de vezes todos os dias, a esquina mais conhecida de Londres pra mim. O Hyde Park, a Edgware Road forrada de mesas nas calçadas, mulheres de burka e letreiros indecifráveis.
E então Notting Hill, com suas casinhas chiques, seus jardins, seu clima de bairro tranquilo e descontraído...

Isso tudo já faz tanta parte de mim que vai ser muito estranho pegar o avião pra não voltar mais a fazer esse caminho.
Acho que um dia vou voltar pra Londres, pegar o 23 e chegar em Ladbroke Grove só pra relembrar. São essas lembranças, e não a do Big Ben, que vão ficar.

Mas enquanto isso, enquanto ainda estou aqui, vou sair pra almoçar, passar pelo cantinho do Marble Arch, pegar meu sanduíche e quem sabe comer no Hyde Park, sem pensar no que vou perder e nem no que me espera, apenas no que acontece agora. Usar toda essa emoção para o presente, não pensar em passado nem futuro. A vida é agora, agora ainda é Londres, e o Brasil será muito bem-vindo quando chegar de novo na minha vida.
Mas pode esperar mais um pouquinho.

Monday, June 30, 2008

Desabafo sobre o trânsito que me espera em SP

Por que, meu Deus, POR QUE, as pessoas reclamam tanto do trânsito de São Paulo, e ao mesmo tempo, não fazem absolutamente nada a respeito?!?!

Sabe aquele colega de trabalho que você tem, que vive reclamando, mas não sugere absolutamente nenhuma solução para o problema, e você o critica porque acha que ele é um completo inútil? Pois é. É assim que eu vejo o povo paulistano. Sério. Sem exceção, todo mundo com quem eu converso responde da mesma forma à minha pergunta sobre como anda São Paulo. "Não anda" é a resposta unânime. "Está um caos", "São Paulo parou". Mas e aí? O que todos continuam fazendo? Pegando seus carros e se enfiando no trânsito!!! É inacreditável. Repetindo o mesmo caminho todos os dias, por mais tortuoso e dolorido que seja, sem pensar em alternativas. Cadê o raciocínio e inteligência que deveriam ser particulares aos seres humanos?

Gente, bicicleta é uma coisa que pode ser bacana. Andar a pé também. Se o seu trabalho / escola é longe demais, arrume uma carona, acerte um rodízio com alguém. Todo mundo, sem exceção, pode fazer alguma coisa. Organizar rodízios com o pessoal do trabalho ou da escola, por exemplo, é fácil e não tem nem a desculpa de que pode ser perigoso (como no caso do site e-carona, que você se registra e acerta caronas com desconhecidos).
E ônibus e metrô, dependendo do roteiro e do horário, podem não ser tão ruins assim.
Eu sou preguiçosa. Não faço o tipo esportista. Mas eu prometo que quando estiver aí, vou procurar caronas e / ou caroneiros e de preferência, um trabalho perto de casa.

Outra coisa: as empresas podem muito bem começar uma cultura de priorizar contratações de pessoas que morem na região. Imaginem que lindo se todas fizessem isso. Nenhum carro na rua, muita gente andando na calçada. Lindo.

Por fim, sim, ter um sistema de transporte público eficiente ajudaria muito, ter metrô por São Paulo inteira seria um sonho. Mas ficar esperando isso acontecer e reclamando que não acontece é que não dá. O poder e a força da união das pessoas em uma comunidade fazem milagres. Que tal tentar?

Pronto, falei.

Monday, June 23, 2008

Felicidade

Quer me ver feliz?

1) Venha me visitar (enquanto é tempo)
2) Traga uma sacola com sonho de valsa, chumbinho, bis e palmito.

Foi o que as fofas da tia Marilia e da Luiza, leitoras e comentaristas deste blog que vos fala, fizeram. Aquela frase, de que a felicidade está nas coisas mais simples, nunca me pareceu tão verdadeira.

Jantei uma saladona com palmito - acreditem, foi um sonho - e de sobremesa, os chumbinhos. De virar a cabeça e abrir a caixa em cima da boca, sabem? Assim mesmo. E agora vou dormir feliz.

O problema é que as duas agora estão passeando em Londres e com isso eu perdi 30% dos comentários do blog.

Mas valeu a pena.

Wednesday, June 18, 2008

O que estão falando por aí...

... de São Paulo. Matéria publicada no The Daily Telegraph em 17 de junho de 2008.



São Paulo: My kind of town
DJ Pete Tong

Why São Paulo?
São Paulo for me is the New York of South America. Flying in is one of the most precarious landings in the world – it seems as if you’re skimming the rooftops.
It’s a sprawling city, and from the air it looks more like Mexico City, with buildings as far as the eye can see. Like New York, it has an incredible buzz, but here it feels as if the inhabitants have cut themselves off from the rest of the world.

What do you miss most when you're away?
Definitely Maresias, a fantastic beach east of the city. It’s a 90-minute drive, but well worth it. It has a beautiful beach area and one of the most famous clubs in the world, The Sirrena. Eccentric resident DJ Carlo Dall’anese plays a mishmash of music. With amazing views of the sea and an exceptional sunset, it’s very much like Ibiza’s Space, but by the sea. Every top DJ has played there.

What's the first thing you do when you return?
Head straight to Crystal for coffee and cake. It’s a quaint little coffee shop in the heart of Jardins and serves exquisite cakes with custard and delicious coffee. Right in the fashion centre, it is brilliant for people-watching – and Brazil boasts some of the most beautiful people in the world.

Where's the best place to stay?
The Fasano Hotel (0055 11 3896 4000; www.fasano.com.br; doubles from around £250), for me, one of the best five-star boutique hotels in the world. The Fasano family have been hoteliers and restaurateurs for more than 100 years and they clearly know what they are doing. Designed by Isay Weinfeld and Marcio Kogan, the building is an audacious recreation of Thirties style – cool and understated. They even imported bricks from London to complete the hotel’s façade.
The Emiliano (3068 4399; www.emiliano.com.br; doubles from around £230) is the little brother hotel, and equally as impressive.

Where would you meet friends for a drink?
On the roof of the Unique Hotel (Ave Brigadeiro Luis Antonio, 4700, Jd Paulista; 3055 4700), which is where most of the international DJs stay when they play in the city. It has startling architecture and looks like a bat or a squashed letter N. For its part, the roof looks like a landing strip and boasts an unparalleled view of the city.

Where are your favourite places for lunch?
Go to Rodeio (Rua Haddock Lobo 1498; 3474 1333; www.churrascariarodeio.com.br) and try troseceroa, basically meat on skewers, but a very upmarket version. You cook it at little grills on the table. The restaurant has the feel of an old gentleman’s club. Having served the same menu for years, they have perfected every dish, and welcome a mix of families, wealthy guests and a young fashion crowd.

And for dinner?
I love Gero (Rua Haddock Lobo 1629; 3064 0005), a very cool and authentic Italian restaurant that could be straight out of Milan. It’s another great spot for people-watching, drinking wine and soaking up the atmosphere.

Where would you send a first-time visitor?
To the Bienal of Art (www.bienalsaopaulo.globo.com), an amazing presentation of modern art and a great place to lose yourself. With stunning parks and two spas it’s also a wonderful part of the city. This year’s Bienal begins on October 26.
What would you tell them to avoid?
The main advice I would give is don’t be ostentatious. It might sound obvious, but if you walk around dripping in gold you are asking for trouble.

Public transport or taxis?
Taxis – they’re cheap, and easier than buses.

Handbag or moneybelt?
Pockets are fine – but take the usual precautions you would in any big city.

What should I take home?
Nhá Benta chocolate marshmallow: the Latin version of marshmallow is huge in Brazil and delicious.

And if I've only time for one shop?
I love Osklen (Rua Oscar Freire 645; 3083 7977; www.osklen.com) which sells eco-friendly fashion; it’s not unlike Abercrombie and Fitch.

Monday, April 14, 2008

Só pra finalizar

Com um pouquinho de atraso, talvez com o timing um pouco vencido, gostaria de publicar um outro e-mail que recebi sobre o assunto saúde, da Paula. É um contraponto interessante ao do Marcos, sem discordar, apenas desenvolvendo um pouquinho mais a questão e mostrando o ponto de vista de outro setor relacionado (a Paula é engenheira de alimentos). Ah. E eu concordo com todos. E estou adorando essa participação e principalmente ver que tem sim, gente pensando com carinho no Brasil.

Segue o email, que eu não quis editar apesar de longo. Tenham paciência e leiam, prometo que é o último ;-)

"Concordo quando se estabelece a relação entre o custo de um número num fast food ao salário médio brasileiro e o americano. Aqui, $5 a $10 dólares compra pouca comida boa, mas muita comida gorda e ruim, o que acaba atraindo pessoas que não recebem um salário muito alto e tem que se alimentar de coisas mais calóricas para poder fazer um trabalho árduo durante o dia. Ao contrário, R$10 no McDonalds é luxo no Brasil.

Mas não acho que, mesmo hipoteticamente, o aumento ao acesso a esse tipo de produto como consequência do aumento de renda faria com que a nossa população engordasse mais e pudesse ter acesso às academias com convênios. Hoje nós já temos uma grande parcela da população no Brasil que está (bem) acima do peso. Infelizmente, grande parte dela também é a que se encaixa nos problemas citados como doenças cardíacas e câncer, simplesmente porque uma giga parte da nossa população não tem acesso a informação.

Muitas bolachas e biscoitos são enriquecidos não somente para atrair mães com consciência das necessidades das suas crianças, mas porque muitas pessoas pobres se alimentam dessas bolachas, que ainda são mais baratas e práticas do que um prato de comida. No boom das gorduras trans, as empresas de alimentos correram que nem doidas atrás de alternativas para o problema, mas não adianta. Muita gente que compra não faz a menor idéia do que eram as trans e continuariam comprando do mesmo jeito. Porque é gostoso, prático, não demanda tempo e é barato.

E mesmo com a justificativa que eu li, ainda acho que o movimento pró convênio entre academias e planos de saúde funcionaria, pois é só pensar quais planos de saúde teriam esses convênios. O número de beneficiários de planos de saúde é muito pequeno em relação a população total, ou seja, são as pessoas que tem dinheiro para Mc, frutas, cozinheiras e academia que usam plano de saúde. Entretanto, isso não elimina o benefício dos planos incentivarem hábitos saudáveis, já que economizariam dinheiro. Aliás, já o fazem pagando exames preventivos e check ups.

Eu já trabalhei em indústria e acho que esses planos com convênios não teriam grande apelo para seus funcionários menos graduados, pois qual a vantagem de ter um desconto em academia para um funcionário que exerce um trabalho braçal durante o dia todo? Somente profissionais que ficam sentados durante seu trabalho, na frente do computador, com um grande trabalho intelectual se interessariam por esse tipo de serviço. E quem são essas pessoas? Nós.

Mais um vez enfrentamos o grande problema da diferença social, em que conseguimos concluir que excluindo uma parcela da população, algo que funciona por aí, também funcionaria no Brasil. (suspiro)... será que um dia isso muda?"

Thanks Py e Marcos, acho que vou contratar vocês pra um blog-fórum de discussão!

Wednesday, April 09, 2008

A saúde no Brasil

Esse foi o e-mail que recebi do Marcos, de uma seguradora da área de saúde, em resposta ao meu post, abaixo, sobre a nova geração de planos de saúde que está crescendo por aqui.

Achei o texto do Marcos super esclarecedor e porque não, um ótimo tema para reflexão não só sobre a saúde em si mas sobre o permanante lugar que o Brasil ocupa sempre um passo atrás de outros países. Mas neste caso, é um lugar atrás que poderia, num golpe de mestre, virar na frente. Explico: de acordo com o e-mail do Marcos, em termos gerais, a saúde no Brasil é melhor do que nos países desenvolvidos porque o Brasil é mais pobre e a renda das pessoas não permite chocolate e fast-food. Quando os países ficam ricos, as pessoas ficam gordas, e planos de saúde geniais aparecem. O caminho natural do Brasil seria enriquecer, engordar, e depois criar planos de saúde geniais para emagracer todo mundo e chegar no ideal do país rico e saudável, provavelmente 15 ou 20 anos depois de os países desenvolvidos terem alcançado isso. Então, por que não, com essa previsão em mãos, enriquecer e educar ao mesmo tempo, pular uma etapa e finalmente deixar de estar sempre para trás?

Segue o texto.

"Aqui o pessoal começou a desenvolver planos neste sentido. Essas ideias simpáticas vieram todas de um livro que todo o setor de saúde no mundo usa e se chama "Redefining Healthcare" do Porter.

Esse tipo de ação é muito boa mesmo, porém os incentivos para a adoção delas no Brasil ainda são muito baixos.
Em especial no Reino Unido uma parcela substancial das "medical claims" estão relacionadas à procedimentos complexidade média e doenças diretamente causadas pelo estilo de vida da população. A exemplo da obesidade e alcoolismo que acarretam em doenças cardíacas, diabetes e algumas formas de câncer.

Aqui em território tupiniquim a maioria de nossas "Claims" estão relacionadas à catarata, câncer de mama, doenças pulmonares e eventos em pronto-socorro.

Por incrível que pareça a dieta brasileira e nossas praticas sociais propiciam um estilo de vida mais saudável. Mas com a evolução do perfil sócioeconomico e aumento da renda, é bem provável que em cinco anos nossos perfil de atendimento médico se assemelhe mais ao dos britânicos.

Outra coisa que os britânicos fazem que é bem legal, e inclusive alguns MP's estão tentado impor via lei, é a passagem periódica e obrigatória das pessoas em seus General Practitioners para a identificação de patologias em estágios iniciais assim como "assessing probable health risks".

...

Ele (o setor de saúde) se assemelha mais ao modelo de negócio de seguradoras, ou seja, todos os incentivos a mudanças e inovações estão relacionados à quantificação de probabilidades de ocorrência de determinados eventos.
Então usando aquela lógica do "Freakonomics" para termos academias subsidiadas por planos de saúde precisamos abrir vários McDonalds, Burger King, Arbys, Starbucks e isentar a Elmma Chips de ICMS, PIS e CONFIS.
Outra coisa que poderia ajudar seria contratar estes fornecedores para fazer a merenda escolar de escolas públicas, lógico que não poderíamos esquecer que colocar vending machines da Coca-cola em todas as escolas.
Aí seria só uma questão de tempo para conseguirmos que mais de 50% da população entre 5-10 anos de idade, 30% entre 10 e 20 anos, e , 40% da população acima dos 30 anos estivessem acima do peso e hipertensas. Deste ponto em diante teremos Cia Athletica e Fórmula a preços próximos dos R$50,00."

Conclusão: esqueçam a academia de graça, vamos deixar assim mesmo como está.

Friday, April 04, 2008

Bom pra todo mundo

É de idéias assim que o mundo - os consumidores e os profissionais - precisam para se entender melhor.
Eu já tinha visto por aqui propaganda de plano de saúde dizendo que dava desconto em academia de ginástica. Achei que fazia sentido, afinal se você se exercita você tem menos chances de ter doenças, portanto o plano acaba gastando menos com você.
Mas acabei nem pesquisando sobre o assunto.
Hoje fui almoçar com uma amiga que é malhação-maníaca e ela me contou que o plano de saúde do marido dela (fornecido pela empresa dele) não só paga pela academia dos dois como vai dando descontos na mensalidade de acordo com o uso da academia. A partir de 2 vezes por semana, já tem desconto. Eu já estava achando o máximo da genialidade quando ela me contou que não pára por aí: ela também acumula pontos no supermercado quando compra frutas e outros produtos benéficos ao organismo, e esses pontos vão se convertendo em mais descontos no plano.
É genial. É do bem. A seguradora economiza, o consumidor economiza, e as pessoas ficam muito mais saudáveis.
Eu só queria entender por que no Brasil, o país do plano de saúde particular, isso ainda não funciona assim. E os planos continuam pagando toneladas de consutas médicas particulares absolutamente substituíveis por uma voltinha de bicicleta ou uma caminhada para o trabalho.

...

Sem contar que ainda ia melhorar o trânsito das cidades, que pelo jeito anda (ou melhor, não anda) bem complicado. Mas é que brasileiro é assim, fica parado horas dentro do carro com medo de assalto mas não vai a pé de jeito nenhum.

Saturday, March 15, 2008

Friday night

Sexta-feira à noite em casa. Marido dormindo no sofá. É hora de reflexão.

Por que as pessoas colocam foto de beijo de língua no orkut?
Por que as pessoas têm medo de ser felizes?
Por que não constroem monumentos e pontes bonitas em São Paulo? E não limpam os rios?
Por que não inventaram o teletransporte?
Por que eu não ganho um salário melhor?
Por que meu banheiro não fica pronto nunca?
Por que chocolate engorda?
Por que existem objetos como esculturas brilhantes de gatos, carpetes roxos, cortinas azul-royal?
Por que eu não sei fazer pão de queijo?

Thursday, March 06, 2008

Pré-Berlim

Gente, tá difícil eu sentar com calma e inspiração pra escrever como vocês merecem sobre a Bélgica, sobre as impressões e preparações para Berlim, sobre o caos da vida. Esta semana eu literalmente não tive tempo de me alimentar decentemente, quanto menos escrever no blog.

Estava aqui pensando o que eu poderia escrever só pra não deixar o blog sem nada por mais 3 dias, afinal hoje vamos pra Berlim.

Eis que como um milagre apareceu na minha caixa de entrada o e-mail que copio abaixo. Eu sempre recebo uns comentários divertidos sobre o Brasil, mas essa pérola eu tinha que dividir com vocês. Seria engraçado se não fosse trágico.

Bom fim de semana e até segunda!

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Dear Sirs,

I'm analysing the possibility of exporting incense to Brazil. The people in your country who i'm dealing with have told me that there are a number of taxes that would apply to my product, raising the price up tremendously (hence forcing me to drop my sale price in order to make the operation viable). I have my doubts regarding this information so I was wondering if you could help me out by confirming this to me. Below is what I was told:

In this this country taxes are very high and there is big diferences from product to product.

This are the taxes that apply to incenses (ncm 3307.41.00):


Apply over r the Cif price (prod+shipping):

Import tax: 18%

IPI : 22%

Pis: 2.2%

Confins 10.3%

Over this value (Cif price + taxes) apply ICMS of 25%

This taxes are in cascate. See the example with Cif of £100:


Cif: £100

Import tax: £18

Ipi: £22

Pis. £2.2

Cofins: £10.3

Subtotal: £152.5

ICMS :£38.12

Total: £190.62



Is this information accurate? Please let me know. Thank you very much for your help.

Friday, February 22, 2008

A Globalização da Empada

Escrevi um comentário num blog alheio e de repente achei que sem querer eu tinha escrito um post pra este blog.
É que o Antonio Prata (link aqui do lado) escreve muito bem. Queria eu ter sido a autora de metade dos seus textos. E ele escreveu um que é praticamente uma ode à empada (leiam lá) que me lembrou de um assunto que eu estou remoendo há meses e não transformei em texto não sei por quê.

Viajando pela Europa eu notei que Londres tem as mesmas lojas que Paris, Barcelona, Milão. As mesmas redes de fast-food. A mesma moda. Cada vez mais as ruas vão ficando mais iguais, os nomes mais repetitivos. E as exclusividades mais escassas. E eu que só queria descobrir o que tinha de típico de cada lugar.
Cheguei a comentar com vários amigos que essa era uma das minhas grandes decepções, essa globalização que assassinou o que há de regional e especial de cada canto do mundo. Chega uma hora que você começa a viajar muito e a achar tudo meio igual, e confesso que perde um pouco da graça. Achei muito mais divertido conhecer a Inglaterra de 1995 do que a de 2007. Agora quase tudo o que tem aqui eu já tinha acesso no Brasil. Ou pelo menos grande parte. Há 15 anos, quase nada do que tinha aqui estava disponível no Brasil. E era tudo muito mais encantador e novo.

Mas no Brasil não. Contra toda e qualquer tendência de globalização, o Brasil em alguns aspectos vai se tornando cada vez mais autêntico. No Brasil tá cheio de coisa que só tem no Brasil: empada, brigadeiro, samba, pandeiro. Suor, bagunça, pastel, garapa. Putz, como é que eu ia me esquecendo da pamonha. E feijoada! E forró, luau, trio elétrico. A lista é interminável. E as batas, os colarzões, aquelas roupas meio-pai-de-santo-meio-riviera francesa que só no calor tropical dá pra usar e não perder a elegância? Que maravilha! E essas coisas autênticas brasileiras estão cada vez mais na moda, cada vez mais nas graças do povão e da elite, numa comunhão de estilo e amor ao que é tradição. Um ponto positivo pro país que só leva bronca.

Isso me faz ficar mais otimista. A tendência é inventar tendências, encontrar costumes, sabores e cores diferentes das que já se espalharam por aí. Deve ser esse o tal do ciclo - um dia é da caça, outro do caçador. Ia ser lindo ver a irreverência dos brasileiros, a gentileza e a alegria virando moda no mundo todo. Quem sabe daqui a vinte anos não vai ser a gente que vai substituir os Mac Donald's espalhados pelo planeta pela grande rede Rancho da Empada?

Wednesday, February 20, 2008

Esses veículos, os carros

Londres é uma cidade na qual quase não se tem necessidade de ter carro. Uma coisa rara, um exemplo importante, que eu acredito sinceramente que seja o futuro - porque é melhor e porque tem que ser assim. A concepção de transporte "cada um no seu carro, com o banco de trás vazio" é um absurdo, uma promiscuidade. É quase como a festa do sexo antes da aids aparecer. Todo mundo feliz e contente com seu carrão, e de repente, bum! Explosão de gás carbono na atmosfera, desastres naturais, aquecimento global e tudo aquilo mais que a gente está cansado de escutar. Um carro pra cada um é uma prática incabível que tem que ser esquecida, mais cedo ou mais tarde.

A sensação de que os ingleses estão sempre à frente do nosso tempo sempre me acompanhou, e enquanto no Brasil o sonho das pessoas é o carro próprio, aqui eles já estão criando regras e sistemas de transporte para que os carros sejam cada vez menos usados e necessários. O que eu acho lindo e óbvio, e me deixa inconformada o fato de em outros lugares isso não estar sendo nem considerado ainda.

Mas não sejamos utópicos. Enquanto não estivermos plantando nosso próprio alimento no quintal, precisaremos ir e vir em busca de suprimentos. Precisaremos ir até o supermercado e voltar pra casa carregados de sacolas. E não se trata só do consumo: e as viagens? Eu não quero que voltemos no tempo a ponto de vivermos cada um na sua porção de terra, plantando seus vegetais e isolados do resto do mundo. Não que eu realmente ache que isso pode acontecer. Seria voltar aos feudos. Então como faríamos pra viajar? Pra ir ali até a praia? Não tem jeito, carro ainda vai ser por muito tempo essencial em algumas situações.

Por tudo isso eu achei genial o que descobri ontem: O Streetcar. Trata-se de um sistema de carro pay as you go: você só usa quando realmente precisa. É tipo um carro coletivo que só na hora de fazer aquela baita compra e precisar de um porta-malas, ou ir viajar no fim de semana, você pega. Funciona como um clube, você se registra, paga uma anuidade e recebe em casa um cartão. Depois, é só ir até onde tenham carros disponíveis, que é literalmente em cada esquina (perto de casa achei 3 pontos, todos a uns 2 minutos a pé). Você abre o carro com o cartão, coloca no painel o código do aluguel que você fez pela internet e pronto, dá a partida e sai dirigindo. A tarifa depende de quanto tempo você vai ficar com ele, que podem ser períodos de meia hora a um mês. Sempre, claro, muitíssimo mais barato do que um aluguel comum e complicado das rent-a-cars da vida.



Eu, que estava louca pra pegar uma estrada e conhecer a Inglaterra direito, sem ter que depender de trens, ônibus e estações, podendo parar onde bem entendesse pra tirar fotos ou admirar a paisagem, fiquei empolgadíssima. Pra ficar perfeito mesmo, agora só falta eles substituirem os carros pelos novos modelos de emissão zero de carbono que já estão sendo produzidos por aqui, como o Honda Civic Hybrid. Aí sim vou poder dizer que "Oh, that's the idea! Making good use of baaad rubbish!"