Friday, February 22, 2008

A Globalização da Empada

Escrevi um comentário num blog alheio e de repente achei que sem querer eu tinha escrito um post pra este blog.
É que o Antonio Prata (link aqui do lado) escreve muito bem. Queria eu ter sido a autora de metade dos seus textos. E ele escreveu um que é praticamente uma ode à empada (leiam lá) que me lembrou de um assunto que eu estou remoendo há meses e não transformei em texto não sei por quê.

Viajando pela Europa eu notei que Londres tem as mesmas lojas que Paris, Barcelona, Milão. As mesmas redes de fast-food. A mesma moda. Cada vez mais as ruas vão ficando mais iguais, os nomes mais repetitivos. E as exclusividades mais escassas. E eu que só queria descobrir o que tinha de típico de cada lugar.
Cheguei a comentar com vários amigos que essa era uma das minhas grandes decepções, essa globalização que assassinou o que há de regional e especial de cada canto do mundo. Chega uma hora que você começa a viajar muito e a achar tudo meio igual, e confesso que perde um pouco da graça. Achei muito mais divertido conhecer a Inglaterra de 1995 do que a de 2007. Agora quase tudo o que tem aqui eu já tinha acesso no Brasil. Ou pelo menos grande parte. Há 15 anos, quase nada do que tinha aqui estava disponível no Brasil. E era tudo muito mais encantador e novo.

Mas no Brasil não. Contra toda e qualquer tendência de globalização, o Brasil em alguns aspectos vai se tornando cada vez mais autêntico. No Brasil tá cheio de coisa que só tem no Brasil: empada, brigadeiro, samba, pandeiro. Suor, bagunça, pastel, garapa. Putz, como é que eu ia me esquecendo da pamonha. E feijoada! E forró, luau, trio elétrico. A lista é interminável. E as batas, os colarzões, aquelas roupas meio-pai-de-santo-meio-riviera francesa que só no calor tropical dá pra usar e não perder a elegância? Que maravilha! E essas coisas autênticas brasileiras estão cada vez mais na moda, cada vez mais nas graças do povão e da elite, numa comunhão de estilo e amor ao que é tradição. Um ponto positivo pro país que só leva bronca.

Isso me faz ficar mais otimista. A tendência é inventar tendências, encontrar costumes, sabores e cores diferentes das que já se espalharam por aí. Deve ser esse o tal do ciclo - um dia é da caça, outro do caçador. Ia ser lindo ver a irreverência dos brasileiros, a gentileza e a alegria virando moda no mundo todo. Quem sabe daqui a vinte anos não vai ser a gente que vai substituir os Mac Donald's espalhados pelo planeta pela grande rede Rancho da Empada?

1 comment:

Anonymous said...

Mas e aí, qual seria a graça?
Onde estaria toda a autenticidade e exclusividade brasileiras se todo o nosso suor, alegria e irreverência fosse parar na boca do povo, ou melhor, no resto do mundo?
Prefiro que o brigadeiro e o pão de queijo continuem sendo só nossos.