Wednesday, October 03, 2007

Vendo de fora, fica pior

Cá estou eu retomando minhas atividades neste blog após quase 2 meses ensaiando. Tenho pensado muito em muitas coisas para escrever. Todo dia acontece alguma coisa, ou eu vejo alguma coisa, e escrevo um texto mentalmente enquanto pego o metrô ou ando até em casa. Mas áté chegar no computador, o texto se desfez e a inspiração daquele momento foi substituída pelas tarefas domésticas ou profissionais e o blog acaba ficando para depois, esperando um momento em que oportunidade e inspiração se encontrem novamente.

Eu gostaria de retomar meus pensamentos aqui com notícias boas ou histórias divertidas. Mas não consigo ignorar uma angústia que tem me perseguido nos últimos dias, alimentada pelas notícias que ando tendo do Brasil.

Estou aqui, neste país distante e pequeno, ilhada e coberta por nuvens. Este país pequeno mas notável, que protege sua economia, que usa como argumento para vender mais o fato de que seus produtos são 100% britânicos. E se não são, vêm com uma enorme etiqueta explicando o que é Fairtrade e atestando que os produtores daquela banana - normalmente de países em desenvolvimento - receberam o valor justo pela sua produção. Este país que parece frio mas que vai conquistando aos poucos pela seriedade com que trata dos assuntos sérios e pela liberalidade com que aceita o novo. E foi aqui, protegida pela segurança de um país que zela pelas suas pessoas, que recebi as últimas notícias do Brasil distante.

Alguém levou um tiro. Alguém próximo, pai de quem me deu a notícia. Na Marginal Pinheiros, ali mesmo, onde passei todos os dias durante anos enquanto trabalhava na Ed. Abril, e continuei passando depois. Ali onde quase todos os meus amigos passam todo dia. O trânsito estava congestionado e o ladrão bateu com o revólver na janela da vítima. A vítima, de carro blindado, ignorou. Fingiu que não estava vendo e continuou olhando pra frente. O ladrão parou a moto em diagonal na frente do carro, com a maior calma do mundo, e atirou. Simples assim, no meio dos carros, em plena avenida, à luz do dia. Assim, normal.

Não, o pai do meu amigo não morreu, porque estava de carro blindado. Porque a família tem dinheiro ganho com trabalho e suor, merecidamente, e não pode ir e vir livremente. Mas e quem não tem? (Diga-se de passagem, praticamente todo mundo.)

O mais triste dessa história é que vocês devem estar lendo este texto e se perguntando "tá, mas cadê a novidade? Por que ela está tão revoltada?"
Estou tão revoltada porque sei que isso não está certo, porque estou vivendo de forma mais humana, estou vendo de fora o tamanho do absurdo brasileiro. Porque estou num lugar onde se um ladrão de galinhas entra na sua casa pensando que vai só pegar umas coisinhas e sair despercebido, a polícia chega com uma equipe enorme 3 minutos depois fazendo perguntas e tirando digitais. Porque o que é seu é seu e ninguém tem o direito de invadir. Porque o normal é ter porque se trabalhou e mereceu, e não porque roubou. Se você tem dinheiro, o pobre vai te admirar e não te odiar. Mas vamos combinar que o pobre aqui é bem mais rico que o pobre daí.

Tá tudo errado.

Tirar algo do outro já é errado.

Tirar a vida, é inadmissível.

Por favor, não se acostumem com isso, não achem que é normal. Não é!!! Eu estava acostumada. Precisei sair pra olhar de fora e enxergar o tamanho do escândalo. Espero nunca mais me acostumar. Eu sou mais uma brasileira apaixonada pelo Brasil, pela sua alegria de viver, pelas suas pessoas, que está com medo do Brasil. É triste dizer isso, e eu vou voltar, mas estou com medo. Eu aprendi a andar sem medo pelas ruas, e não sei como será quando eu tiver que desaprender.

1 comment:

Anonymous said...

Cara é uma realidade mto triste!!
Sabado deram aquele golpe do telefone desesperado na minha mãe. Ligaram no cel dela, as 4am chorando e pedindo ajuda. Era uma menina.
E sabe o qué é o mais louco? Minha mãe desligou na cara!!

E obviamente não ligaram de novo... e obviamente ela ficou com a pulga atrás da orelha - mas me esperou acordar as 10am para ligar e ver se eu estava bem.

Isso sim é louco! As pessoas se acostumarem com a violência. As pessoas já saberem reagir. Minha mãe ter a frieza de esperar até as 10am pq tinha certeza que era um trote.

Isso é louco!

Beijos