Saturday, June 02, 2007

Amsterdam - a cidade das bicicletas

Eu sempre digo que o ser humano tem uma capacidade incrível de se adaptar às as coisas.
A gente pode ver uma coisa pela primeira vez e achá-la esquisitíssima. Mas depois de um tempo convivendo com ela, não vamos achar mais tão esquisito assim.
Sou totalmente leiga no assunto ciência-genética-medicina ou sei lá que área é essa, mas meu feeling (que costuma funcionar) me diz que essa é uma característica que vem conosco desde os primórdios da nossa existência, uma questão de defesa do ser humano mesmo.
Deve ser por isso que os brasileiros não se revoltam mais com o fato de ter gente morrendo a tiros toda hora, vítimas da violência gratuita. Também deve ser por isso que, durante a guerra, milhares de pessoas viveram em porões e estações de metrô, em condições sub-humanas, e sobreviveram. E também deve ser por isso que estou quase começando a achar as Crocs bonitinhas (socorro). O ser humano se acostuma, e se adapta, a (quase) todas as situações.

E Amsterdam é a prova disso. Cidade liberal, promíscua, sexual. E também linda, civilizada, com seus canais e bicicletas.
É uma cidade que pode chocar à primeira vista, pra cinco minutos depois te ensinar a se sentir à vontade.

Sex-shops em seqüência por ruas e mais ruas próximas ao distrito do red light. Um monte de gente entrando e saindo sem a menor cerimônia.
Dois quarteirões depois, você se pega entrando em um também. Afinal, isso é programa típico. Em Roma, como os romanos (e neste caso, bastante influenciado por Bacco).
Sé é que existe algum tipo de estereótipo de freqüentador de sex-shop, definitivamente não é ele que você vai encontrar em um de Amsterdam. Grupos de mocinhas curiosas, casais discretos, senhores e senhoras de idade, todos analisando as prateleiras e seus apetrechos como se estivessem diante de uma prateleira de sapatos. Ou qualquer outra coisa bem comum e rotineira.
E você, de repente, se pega olhando para um objeto assustadoramente enorme sem ao menos ficar vermelho. E o cara do seu lado escolhe um deles, pega e leva pro caixa, e você nem acha aquilo estranho.

Refletindo sobre isso, cheguei à conclusão de que o red light district é fichinha perto dos sex-shops e coffee-shops (que são a mesma coisa, mas na versão drogas ao invés de apetrechos sexuais). Depois disso, nem vale a pena escrever sobre as moçoilas de lingerie nas vitrines. O interessante é ver gente comum participando do incomum, isso sim.

O que Amsterdam é, na verdade, é um balde de realidade jogada na sua cara. Tudo o que existe em qualquer cidade, em qualquer país do mundo, mas de forma escancarada e sem vergonha. Se isso faz as pessoas que moram lá perderem mais o rumo do que nas cidades onde isso tudo é proibido? Acho que não. Quem faz, faz em qualquer lugar, proibido ou não. Aliás, o fato de ser tudo tão aberto me deu a sensação de uma consciência muito maior.

Se eu levaria meus filhos pequenos para passear no red light, como vi muitos pais fazendo? Não.
Ainda acho que tem tempo certo para descobrirmos a nossa capacidade de nos acostumar com tudo.
E, onde a realidade é tão escancarada assim, a inocência vale ouro.
Ainda bem que tem os canais e as bicicletas para fazerem a gente sonhar.



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